domingo, 17 de janeiro de 2016

Você vai para as cidades de de papel pra nunca mais voltar!



Cidades de Papel é um livro que retrata as ironias da vida através de um espectro de personagem. Essa personagem é Margo Roth Spiegelman, ou em outras palavras o milagre da vida de Quentin. Os dois se conhecem desde os dois anos de idade, por serem vizinhos em um bairro de Orlando. Certa vez, enquanto passeavam pelo parque aos dez anos, encontraram um cadáver, e aquele corpo começou a intrigar aa cabeça da pequena Margo, que concluiu que os fios do pobre homem tinham se arrebentado ao voltar para a casa de Quentin durante a noite. E aquela foi a última vez que fizeram contato direto. 

Bem. Os dois continuaram estudando na mesma escola, com a diferença de que Margo se tornou a garota mais popular do Ensino Médio, e da cidade, e todos se deliciavam com a presença e as histórias da menina. Quentin era um reles fracassado, que viveu seus dezessete anos tentando parar de pensar em seu amor de infância, até que, certa noite, ela veio até ele. 

Margo queria que Quentin dirigisse para ela enquanto executavam seu plano maluco de vingança, que incluía deixar bacalhaus de presente para os amigos de Margo, invadir o SeaWorld, e raspar a sobrancelha de um bullier enquanto dormia. É no topo do edifício SunTrust que ambos observam a grande cidade de papel que é Orlando com suas casas de papel, ruas, de papel, bairros de papel e pessoas de papel, e Margo se pergunta qual a finalidade daquilo, e conta sua ambição de deixar de ser uma menina de papel. Ao fim de tudo, ambos se recolheram para suas casas, se perguntando como seria tudo no dia seguinte. Aquela fora a melhor noite da vida de Quentin. Ele só não sabia que aquela seria a última vez que veria a amiga. 

Uma cidade de papel para uma menina de papel. (…) Eu olhava para baixo e pensava que eu era feita de papel. Eu é que era uma pessoa frágil e dobrável, e não os outros. E o lance é o seguinte: as pessoas adoram a ideia de uma menina de papel. Sempre adoraram. E o pior é que eu também adorava. Eu tinha cultivado aquilo, entende? Porque é o máximo ser uma ideia que agrada a todos. Mas eu nunca poderia ser aquela ideia para mim, não totalmente.

Poderia estar morta ou desaparecida. Quentin Jacobsen não tinha certeza de nada, apenas sabia que toda vez que desaparecia ela deixava pistas sobre sua localização, e o garoto então passa a acreditar que Margo Roth Spiegelman deixara as pistas para ele, pois queria que ele a encontrasse, viva ou morta. O que acontece é que ele fica obcecado por encontrar a garota o quanto antes, e isso tudo sem um motivo maior aparente. Há muito tempo os dois não se falavam. Uma única noite seria mesmo possível para tomar o coração do garoto uma outra vez? 

Cidades de Papel é um livro que fala muito sobre explorar os próprios limites e sair da zona de conforto do senso comum, e assim deixar de ser de papel. E para isso, nada melhor do que conhecer a si mesmo. E é nisso que se baseia toda a busca por Margo: conhecer a si mesmo para poder conhecer o outro. E é o contrário que acontece, pois cada vez que Quentin e os amigos de Margo descobrem mais sobre ela, e percebem que, na verdade, nada sabiam sobre ela.

Ela é capaz de ver isso na minha cara. Entendo agora que não posso ser quem ela é, e que ela não pode ser quem eu sou. Talvez Whitman tivesse um dom que não tenho. Já eu preciso perguntar ao ferido onde dói, pois não sou capaz de me tornar o ferido. O único ferido que posso ser sou eu mesmo.
Devo deixar declarado que me surpreendo cada vez mais com o empenho empregado na pesquisa realizada por Green antes de começar a escrever cada livro. Cada mínimo detalhe das cidades e informações envolvidas são tão bem elencadas na estória que é impossível alegar que o autor adquiriu todo aquele conhecimento de mundo e da cultura do local apenas indo a Orlando como turista, e esse empenho realmente vale a pena quando você não se depara com uma enchente de fatos inventados ao longo da leitura.

Me arrisco a dizer que o livro está muito mais focado no processo que nas personagens, sendo este na verdade o protagonista da estória. Margo é uma alegoria ao autoconhecimento e à busca pela plenitude da vida, enquanto Quentin traduz a base do processo, o homem que busca sair da caverna para ver a luz do dia após o vislumbre de uma pequena fagulha. É claro que John Green com toda a sua obra incrivelmente metafórica não deixaria justo esse livro passar em branco.


Quanto ao resto das personagens centrais, todos eles estão nesse mesmo propósito de se descobrir e perceber que não dá pra viver sem mudar a si mesmo inevitavelmente, e cada um deles reage de uma forma diferente à “aventura” proposta no decorrer do livro. Tipos diferentes de personagens, mas nenhuma delas tem uma presença significativa ou interessante no que diz respeito à narrativa. Algumas piadinhas sem graça parecem ter sido mais culpa das personagens que do autor, que soube levar o humor muito bem aos seus outros livros. Muito pouco atraentes, Ben, Radar, Angela, Lacey e até mesmo o próprio Quentin me fizeram desejar muito mais de Margo na leitura, que se demonstrava arrastada quando John Green optou por trabalhar mais as personagens coadjuvantes que o próprio enredo de investigação.

No fim das contas, Margo é o milagre não somente de Quentin, como o de todos os que leem Cidades de Papel, e ficam a esperar virtuosamente por notícias da garota tão bem construída e chamativa. Afinal, quem não quer ser amigo de Margo Roth Spiegelman?

O fato é que não é possível dar opinião sobre o final. Ficou muito “as coisas são assim mesmo”. Foi uma boa conclusão de fato, mas não é o que todos esperam e nem pretendem ler, embora não chegue a ser surpreendente. O autor tinha uma boa premissa para escrever, mas fez um grande desperdício da oportunidade, e o enredo poderia ter sido melhor aproveitado. Sendo assim, O Teorema Katherine continua a ser meu favorito. 




Quanto mais eu trabalho. mais percebo que os seres humanos carecem de bons espelhos. É muito difícil para qualquer um mostrar a nós como somos de fato, e é muito difícil para nós mostrarmos aos outros o que sentimos.


4 comentários:

  1. Apenas um comentário sobre o final: era exatamente o que eu espera que Margo Roth Spielgman fizesse. Você sabe, desde o início - se conseguir entender a personalidade de Margo - que ela não ia voltar. Que no fim ela precisava fugir, pra descobrir quem é. E eu acho que a proposta foi propositalmente essa: os personagens coadjuvantes são desinteressantes, são pessoas normais, chatas, sem humor, vivendo suas vidas de merda. O sentido do livro não era mostrar Margo, mas mostrar o impacto dela nas vidas de merda - uma viagem gigante, um amor louco, uma mudança drástica no jeito de pensar e como combo dois relacionamentos fortes. Margo Roth Spielgman não é o tipo de pessoa que você quer como amiga. É o tipo de pessoa que você quer SER. Aquele mito que aproveita a vida, não liga pro futuro, que faz o presente. Mas é um mito por isso mesmo. Porque ninguém pode ser como ela. Mas até mesmo o mito é só uma garota.
    Uma garota de papel, ainda por cima.

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    1. Estou ligeiramente tentado a copiar isso e colar lá na resenha e depois apagar seu comentário acidentalmente por maldade. Hahahahah sqn

      Mas é, basicamente isso. É como se o livro fosse feito o tempo todo pra ser superestimado e no final você dizer "a vida é assim mesmo".

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  2. Olá

    Eu li esse livro ano passado e não curti a leitura,primeiro que não sou muito fã do autor,mas li pra não julgar sem conhecer,mas não gostei, dos 3 livros que li do autor,achei esse o com a história mais fraca,mas é aquela coisa,questão de gosto.

    Bjss

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