sábado, 1 de fevereiro de 2014

"And The Raven says 'never more'."

Análise Interpretativa do Filme "O Corvo" em contraponto com os contos de Edgar Allan Poe.
[SPOILERS]

O filme “O Corvo”, dirigido por James McTeigue – conhecido pela obra “V de Vingança”, não é de todo, fiel ao livro “Histórias Extraordinárias”, que reúne os contos de suspense macabro do autor Edgar Allan Poe, ainda que esteja no páreo das peripécias de figuras como Sherlock Holmes.


Há um teor relativo de intertextualidade no livro: aqueles que leram seus contos saberão discernir os pontos críticos de cada história, podendo sentir-se no clímax da produção cinematográfica, antecipando certos momentos de tensão e “participando” do desenrolar das investigações, enquanto alguém que ignore a obra levaria o conteúdo do filme apenas como mais um caso de mistério, tendo que depender da atenção em cada detalhe para poder interpretar, no mínimo, o desfecho do filme.
Com perspicácia interessante quanto a mascarar o serial-killer, uma das primeiras histórias a ser retratada é “A Máscara da Morte Rubra”, quando a peste invade o baile no palácio do príncipe próspero, não sendo o filme, de forma alguma, fiel ao livro, vendo pelo ponto de que a Morte Rubra era um ser intocável, não-material, enquanto no filme, um simples rapaz invade o baile em Baltimore a mandato do próprio serial-killer.
“O Caso do Valdemar” é outro conto não tão bem retratado no filme, sendo que os casos de hipnotismo do protagonista da história, visto que é lembrado apenas com uma língua morta retirada de um corpo, não do desfalecimento total dos órgãos do corpo.
Há também, no filme, uma referência a “O Barril de Amontillado”, que trata da ‘vingança” de Montresor a seu rival – no conceito do conhecimento de vinhos – Fortunato. Montresor, na história, decide aplicar uma lição a seu amigo, afirmando ter um barril de Amontillado num vão escuro de sua adega, onde Fortunato, obsecado pela “presença” de Amontillado em pleno carnaval, decide adentrar, mal sabendo, que seu rival Montresor estaria construindo várias muralhas de pedra na única entrada que havia para o vão. Logo, quando decidem ir embora, Fortunato se torna surpreso ao ver que não havia nenhuma passagem para voltar, e logo morre. “O Corvo”, apenas retrata este mesmo tipo de enterro, desta vez, num túnel, facilmente descoberto pelo eco que se produzia na parede de pedra oca.
“O Coração Denunciador” é posto em uma perspectiva um tanto quanto intuitiva, embora não seja, também, tratado com fidelidade no filme. É usando a ideia de escutar as batidas do coração que Edgar, no filme, consegue identificar a localização de Elizabeth, mesmo que definhando até a morte.
O filme leva na bagagem de inspirações, também, os contos “Os Crimes da Rua Morgue”,  “O Poço e o Pêndulo” e o “Os Mistérios de Marie “Rogêt”, além dos poemas “Annabel Lee” e “O Corvo”, sendo que os quatro últimos não foram evidenciados na obra “Histórias Extraordinárias” – tomada como base para a interpretação e análise.
O filme se conclui com uma das possíveis mortes do escritor – envenenado -, e ainda com a irresistível e ainda inesperada previsão do próximo passo do serial-killer, que viveu seus últimos dias tentando refazer os contos de Edgar.
E o corvo aí fica; ei-lo trepado.  No branco mármore lavrado.  Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho. Parece, ao ver-lhe o duro cenho, Um demônio sonhando. A luz caída Do lampião sobre a ave aborrecida No chão espraia a triste sombra; e fora Daquelas linhas funerais Que flutuam no chão, a minha alma que chora Não sai mais, nunca, nunca mais! (LISPECTOR, Edgar Allan Poe)

2 comentários:

  1. Gostei de tudo; do post, do seu blog e até mesmo da sua escrita.
    Beijos, chuchu ♥

    cerejices.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  2. Já escutei falar desse filme, mais nunca me interessei em assistir, mais lendo seu poste o filme parece ser legal. Estou seguindo seu blog.

    momentocrivelli.blogspot.com.br

    ResponderExcluir